O custo do crédito do Brasil voltou ao centro das atenções na última semana, com a Febraban, federação dos bancos, e o Banco Central buscando formas de aliviar as taxas cobradas do consumidor. Isso porque a demanda por crédito tem crescido e os bancos não querem perder o cliente, especialmente o bom pagador. O consumidor, porém, só deve sentir um alívio consistente em 2019.
Especialistas apontam que a concorrência entre as instituições deve contribuir para a redução do chamado spread bancário. O spread é a diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga de juros para captar o recurso) e o quanto cobra do consumidor no empréstimo.
Em números: é a taxa média de aplicação (33,4% ao ano) menos a de captação (6,7% ao ano), que resulta em uma margem de 26,7 pontos porcentuais, segundo dados de novembro do BC.
O principal fator que trava a redução do spread, de acordo com os bancos, é a inadimplência, ainda alta. O Brasil fechou dezembro com 60,4 milhões de inadimplentes - um aumento de 1,34% na comparação com igual mês de 2016, aponta o Serasa.
A quantidade de consumidores que buscaram crédito nos bancos e financeiras subiu 4,9% em 2017, segundo o Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito. Esse foi o maior aumento dos últimos seis anos e o quarto mais elevado da série histórica, iniciada em 2008. Os empréstimos para pessoa física devem crescer 5,7% este ano, segundo a Febraban.
"Já é possível perceber um movimento dos bancos em baixar as taxas. Vemos uma briga mais acirrada pelos clientes do que nos últimos anos", diz o presidente da Associação Brasileira dos Correspondentes de Empréstimo e Financiamento Imobiliário (Abracefi), Marcelo Prata.
Como estratégia para atender esse movimento, bastante diferente do boom do crédito voltado para o consumo em 2012, o foco das instituições para oferecer taxas mais atrativas passa pela digitalização e proximidade com o cliente, afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). "Isso virou a agenda mais frequente das instituições. Estamos numa mudança qualitativa de processo", diz.
Por outro lado, para Maurício Godoi, especialista em crédito e professor da Saint Paul Escola de Negócios, a disputa entre os bancos neste primeiro momento é, sobretudo, para não perder o cliente bom pagador num cenário em que o crédito é utilizado para alongamento de dívidas. "Hoje, a briga é pela manutenção da carteira boa. Nesse ponto, os bancos estão fazendo concessão de crédito melhor, mas que depende do grau de relacionamento com o cliente e o histórico dele", explica.
De olho na demanda reprimida, o Santander passou a reforçar a presença digital no ano passado. O banco passou a oferecer crédito para financiamento de veículos e consignado diretamente pelo aplicativo e implementou uma gestão mais ativa por meio de mensagens personalizadas.
Quem cai muitas vezes no cheque especial, por exemplo, recebe alertas no celular já com as opções de crédito diferenciadas de acordo com o seu perfil. Eduardo Jurcevic, superintendente de empréstimos, explica que essa é uma forma de o cliente perceber que o banco está oferecendo algo diferente. "Vamos nos diferenciar nessa proatividade que não existia", diz. Procurados, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil não comentaram.
Novo panorama
Com ofertas amplamente divulgadas em canais digitais e tecnologia de análise de dados, as startups de crédito acirram a disputa pelo crédito mais barato. Bruno Poljokan, da plataforma Just, explica que aos poucos o brasileiro vai se acostumando a essa nova forma de contratar crédito. "É como e-commerce: as pessoas não faziam compras online, mas isso foi mudando", diz. A fintech, como são chamadas essas empresas, que nasceu no fim de 2016, começou com taxas a partir de 2,99% ao mês - hoje, começa em 1,9% ao mês.
No Bom Pra Crédito, mecanismo que compara opções de crédito, a demanda está 30% maior este mês ante dezembro. Segundo o presidente, Ricardo Kalichsztein, as principais exigências são por prazos e adesões online. De cada 100 clientes aprovados, apenas 15 vão à loja.
Fonte:jornal O Estado de S. Paulo.
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