Setembro marca o Mês Mundial da Doença de Alzheimer. A campanha internacional “Vamos conversar sobre a demência” visa aumentar a conscientização e diminuir o estigma ainda associado a essa condição. E hoje, na data em que propriamente é lembrado o Dia Mundial do Alzheimer, o que não pode deixar de ser mencionada é a importância de estar atento aos traços iniciais da patologia que, embora ainda não tenha cura, existe sim o tratamento que pode retardar a evolução e controlar os sintomas.
Antes de tudo e para contextualizar o assunto, o neurologista e neurorradio intervencionista, Bruno Gonzales Miniello, explica que o Alzheimer é a principal demência cerebral, que atinge principalmente as pessoas de maior idade: acima dos 60 anos. “É preciso entender também, que existe a diferença de um comprometimento cognitivo leve, no qual inicialmente ocorre a perda da memória, mas tem a preservação da atividade funcional diária, que é quando a pessoa consegue, por exemplo, ir à padaria comprar pão e ter controle de remédios e dinheiro. Já no grau mais avançado, com a demência, afeta toda a independência da pessoa”, detalha.
E tais indícios podem ser percebidos de maneira rotineira. Bruno destaca: a memória começa a pregar algumas peças. “Esquecer o fogão ligado. Esquecer os objetos. A pessoa começa a repetir sempre as mesmas histórias e perguntas. E ocorre também a preferência por contar histórias mais antigas, o que chamamos de amnésia anterógrada”, completa.
Há ainda de se dizer que a patologia possui fases distintas, que vão ocorrendo conforme a progressão da doença. O que para o especialista também é um sinal de alerta, uma vez que a questão viso-espacial vai sendo atingida cada vez mais, isto é, a pessoa perde a capacidade de manipular estímulos físicos ou de realizar certos movimentos, de forma a organizá-los ou adaptá-los a determinado fim. “Ele vai fazer um bolo, por exemplo, e serve cru. Ele perde esse senso”, aponta.
Daí vem o momento e a necessidade, até antes, de passar por uma avaliação neuropsicológica, procurar um neurologista. O que muitas vezes esbarra no estigma e na vergonha de admitir a dificuldade enfrentada. Mas isso, segundo Bruno, tem relação direta com o nível sociocultural da pessoa, que quanto mais baixo, menos informação e, consequentemente, menor percepção e procura. “Isso difere na avalição também. Pessoas que falam duas línguas, por exemplo, tem um diagnóstico diferenciado”, frisa.
Contudo, o que o especialista não deixa de frisar é que com o passar o tempo a discussão sobre o Alzheimer e o número de diagnósticos aumentaram. “Mas ainda é necessário mais. São vítimas de uma sociedade, de um governo, que sempre falou muito pouco. Em 2030, a OMS [Organização Mundial de Saúde] alerta que seremos mais de 800 milhões de idosos, então, provavelmente conheceremos alguém que possua a doença”, diz.
Riscos e prevenção
O Alzheimer não é uma questão hereditária, logo, casos na família não impulsionam a ocorrência futura da doença. Mas o neurologista explica que isso é um dos principais motivos que faz com que as pessoas procurem uma avaliação. “Existem contextos hereditários, e merecem uma atenção específica, mas isso não é o fator chave”, argumenta.
O importante, nesse caso, é estar em alerta aos riscos e sintomas. Ademais, existe uma rotina cientificamente comprovada que pode retardar o aparecimento da doença, como manter atividade física regular e manter a alimentação mais simples - algo mais orgânico e integral -, garante o especialista.
Por fim, Bruno lembra que não existe cura para a doença. Questionado sobre um futuro próximo, ou pesquisas que talvez impulsione para isso, ele responde que existem inúmeros trabalhos que buscam isso, mas não há nada em consenso ou com diretrizes concretas. “Em termos de medicamentos, não existe uma perspectiva de cura”, expõe.
Fonte:Jornal O Imparcial
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